Descubra como desenvolver a criatividade em sala de aula com evidências e práticas educativas, desafiando a ideia de que criatividade é um dom inato.
Este artigo é uma continuidade do texto Criatividade e Inovação: competências cruciais para o futuro do trabalho, publicado no LinkedIn da Pearson Higher Education. O artigo traz um tratamento mais amplo sobre estas questões, a partir do ponto de vista da necessidade de se desenvolver as competências para o mundo do trabalho contemporâneo.
Esse artigo terá um viés mais focado e prático. Aqui, partimos do pressuposto que o leitor está familiarizado com artigos sobre competências essenciais para o século XXI. Caso haja interesse, um dos principais relatórios internacionais sobre este assunto é o Relatório sobre o Futuro dos Empregos do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum, 2023).
Antes de nos debruçarmos sobre possibilidades para trabalhar a criatividade em sala de aula, no entanto, faremos um pequeno desvio para responder à seguinte pergunta: a criatividade pode ser desenvolvida? Pode parecer uma pergunta tola, mas, em minha experiência como gestor de instituição de ensino focada na economia criativa, conheci muitos professores da área que pensavam genuinamente que criatividade era um dom que ou a pessoa tinha, ou não tinha. Portanto, há evidências de que essa competência pode ser desenvolvida? Acompanhe!
Infelizmente, criatividade muitas vezes ainda é percebida como um dom natural, muito embora pesquisas indiquem que ela seja, na verdade, uma habilidade que pode ser ensinada, praticada e desenvolvida (Klawe, 2024). Esta constatação é particularmente crucial no atual mundo em rápida transformação, onde profissionais criativos são essenciais para enfrentar desafios complexos e desenvolver soluções inovadoras.
Pesquisas realizadas em todo o mundo, inclusive no Brasil, têm demonstrado consistentemente a importância do desenvolvimento sistemático da criatividade no ambiente educacional. Alencar e Fleith (2010), em seus estudos sobre criatividade no ensino superior brasileiro, identificaram que o desenvolvimento do potencial criativo está intimamente ligado às condições encontradas em sala de aula e ao tipo de ambiente educacional proporcionado aos estudantes. As autoras destacam que a criatividade pode ser sistematicamente desenvolvida quando existem condições adequadas para seu florescimento.
O sistema educacional como um todo - ensino superior inclusive - precisa superar a ênfase no "pensamento convergente", focando em problemas com uma única resposta correta, e adotar o "pensamento divergente", que incentiva a geração de múltiplas soluções para problemas abertos.
Nakano (2009) identificou em sua pesquisa com professores universitários brasileiros que muitos reconhecem a importância da criatividade, mas encontram dificuldades em implementar práticas que a estimulem efetivamente. Alencar e Fleith (2013), por sua vez, identificaram barreiras significativas ao desenvolvimento da criatividade no contexto educacional brasileiro, incluindo (1) a falta de tempo e oportunidade para prática criativa, (2) a Inibição e timidez dos estudantes, (3) a repressão social à expressão criativa, e (4) a falta de motivação no ambiente educacional.
A importância do desenvolvimento da criatividade é reforçada por dados do mercado de trabalho. Segundo o World Economic Forum's Future of Jobs Survey, aproximadamente 73% das organizações priorizam habilidades de pensamento criativo ao considerar talentos, notando sua crescente relevância ao longo do tempo (World Economic Forum, 2023).
Oliveira e Alencar (2008) enfatizam que o ambiente educacional tem um papel crucial no desenvolvimento da criatividade. Suas pesquisas demonstram que professores e o ambiente criativo fazem diferença significativa no desenvolvimento do potencial criativo dos estudantes.
As autoras identificaram que ambientes educacionais que promovem a liberdade de expressão, a valorização de ideias diferentes, a tolerância ao erro como parte do processo de aprendizagem, e o estímulo à curiosidade e experimentação são mais eficazes em desenvolver o potencial criativo dos estudantes.
O LinkedIn Learning identificou a criatividade como a habilidade interpessoal mais demandada globalmente por dois anos consecutivos, observando que ela é essencial para o sucesso profissional sustentado (Industry Insights, 2020). Esta tendência é corroborada pela Statista, que descobriu que mais de 70% das empresas pesquisadas consideram o pensamento criativo e analítico como as habilidades que mais devem crescer em importância entre 2023 e 2027 (Wells, 2024).
[Coluna Inside HED] Desenvolvendo líderes do futuro: importância das soft skills no ensino superior
Os docentes têm diversas formas de estimular a criatividade entre seus alunos. Embora este texto não esgote o tema, ele oferece algumas ideias práticas para aplicação em sala de aula. A maioria das estratégias apresentadas funciona bem mesmo sem o uso intenso de tecnologia, embora o apoio digital possa ampliar os resultados.
Para aplicar práticas criativas no ensino superior com sucesso, é fundamental seguir uma abordagem gradual e planejada. É recomendável começar com uma ou duas práticas inicialmente, permitindo que professores e estudantes se adaptem sem sobrecarga. À medida que as práticas iniciais se consolidam, outras podem ser introduzidas. Documente sucessos e dificuldades para ajustes futuros e compartilhe as experiências com colegas.
O desenvolvimento contínuo dos professores também é essencial nesse processo. É importante que os docentes recebam treinamento adequado nas novas metodologias e ferramentas. A criação de comunidades de prática entre educadores pode ser eficaz para a troca de experiências, resolução de desafios e celebração de sucessos. Esses grupos não apenas fornecem apoio mútuo, mas também incentivam o aprendizado coletivo e o desenvolvimento profissional.
Uma comunicação clara e consistente é fundamental para o sucesso da implementação. Objetivos e expectativas devem ser explicados com transparência, utilizando exemplos concretos para facilitar a compreensão. Além disso, é importante manter canais abertos para feedback, criando um ambiente onde todos se sintam à vontade para expressar dúvidas e sugestões.
Monitoramento contínuo e flexibilidade também são fatores essenciais. O feedback de professores e estudantes deve ser utilizado para ajustar práticas, mantendo o que funciona bem e aprimorando o que precisa ser modificado.
Por fim, o suporte institucional é essencial para a sustentabilidade das iniciativas. Alinhar as práticas criativas aos objetivos institucionais ajuda a garantir os recursos necessários e contribui para a legitimidade e durabilidade das ações. Esse apoio pode incluir a oferta de recursos materiais e tecnológicos, além do reconhecimento formal das práticas inovadoras. Em resumo, o sucesso na implementação de práticas criativas requer compromisso e visão de longo prazo.
O desenvolvimento da criatividade em sala de aula é um processo gradual que requer planejamento e adaptação. Como vimos, existem diversas estratégias práticas que podem ser implementadas, desde abordagens mais estruturadas como o Design Thinking até práticas mais longitudinais como os cadernos "Da Vinci".
O sucesso na implementação dessas práticas depende de fatores como o preparo adequado dos docentes, o suporte institucional e, principalmente, a disposição para começar com pequenos passos e aprender com a experiência.
Os resultados tendem a ser mais consistentes quando há um equilíbrio entre ambição e realismo na implementação. Professores interessados em incorporar algumas dessas práticas podem começar escolhendo uma única estratégia que se adeque melhor ao seu contexto e estilo de ensino.
À medida que ganham confiança e experiência com a abordagem escolhida, podem gradualmente expandir seu repertório de práticas criativas. A plataforma de aprendizagem Personabilities, da Pearson, oferece 6 cursos de Soft Skills e agora o recém-lançado curso de Criatividade e Inovação. Todos os cursos garantem as badges da Credly (microcredenciais) para que os estudantes possam exibir nos seus currículos ou nas redes sociais.
A solução educacional apoia os docentes na prática pedagógica e é um excelente recurso para agregar valor aos cursos das instituições de ensino superior. Para conhecer mais, visite a página da solução Personabilities.
Alencar, E. M. L. S., & Fleith, D. S. (2010). Criatividade na educação superior: fatores inibidores. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, 15(2), 201-206.
Alencar, E. M. L. S., & Fleith, D. S. (2013). Barreiras à criatividade pessoal entre professores de distintos níveis de ensino. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(1), 63-69.
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