Como as microcertificações podem acelerar a aprendizagem e preparar os estudantes para um mercado em constante evolução com foco em competências técnicas e humanas.
A ideia central da Sociedade 5.0 é a convergência inteligente (pedindo desculpas pela repetição) entre a Inteligência Artificial e o ser humano. Cidades inteligentes, como ser humano no centro do desenvolvimento tecnológico, são um exemplo de para onde estamos indo.
Esse futuro traz novos desafios para o desenvolvimento das pessoas ao longo da vida e, acreditamos, microcertificações podem cumprir um papel bastante importante nessa trajetória de preparação contínua para a qual devemos nos preparar. Microcertificações são credenciais de curta duração, com valor de mercado, focadas em competências específicas. Como elas podem ser alteradas com facilidade e têm o potencial de se integrar aos currículos existentes, são instrumentos que respondem diretamente às demandas em evolução do mercado de trabalho.
Novas demandas por competências
Se a Indústria 4.0 era baseada na digitalização acelerada e na adoção de novas tecnologias com o fim último de aumento de produtividade, o conceito da Sociedade e da Indústria 5.0 faz referência à integração harmoniosa e complementar entre seres humanos e o mundo digital, mas (e um “mas” importante) com o ser humano no centro do processo. Essa ideia de centralidade das necessidades e do bem-estar da humanidade já estava prevista desde a conceituação inicial da Sociedade 5.0 pelo governo japonês, em 2016.
Não obstante, é inegável que a tecnologia continua a avançar em velocidade cada vez mais rápida. E a introdução das tecnologias de IA generativas aceleraram ainda mais o processo. O resultado é que a atualização de competências profissionais passa a ser uma demanda para a vida toda. É nesse contexto que a aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning) ganha importância e passa a ser um imperativo organizacional.
Que não se pense, no entanto, que as únicas competências que precisam ser atualizadas, recicladas e fortalecidas, são as técnicas. Como vários relatórios internacionais vêm mostrando, as competências humanas, as soft skills, vêm sendo cada vez mais importantes no mercado de trabalho. Atendendo também pela designação de competências do século XXI, elas incluem habilidades como comunicação, liderança, colaboração, criatividade, entre outras. Relatórios internacionais mostram que estas competências estão entre as mais demandadas por empregadores.
Leia mais: Como as microcertificações aceleram o desenvolvimento de soft skills
Uma estratégia com múltiplos benefícios
No ensino superior, é difícil termos à disposição uma estratégia que atenda aos interesses tanto dos professores, estudantes e empregadores simultaneamente. Esses stakeholders muitas vezes lembram ilhas, em que os interesses de cada um pouco se aproximam dos de outro grupo.
Por exemplo, professores podem estar interessados em trabalhar com os estudantes em temas mais relacionados aos seus projetos de pesquisa, ainda que não sejam totalmente aplicáveis no mercado. Os empregadores, por outro lado, afirmam que os estudantes se formam sem competências específicas para as suas empresas ou seus setores, esquecendo que o ensino superior serve também à formação cidadã. Os estudantes muitas vezes preferem tarefas técnicas imediatas a voos intelectuais mais avançados. É difícil equilibrar tudo isso.
Pois me parece que os programas de microcertificações, quando integrados de forma inteligente aos currículos, atendem simultaneamente aos objetivos desses vários grupos.
Começando pelos estudantes, globalmente o ensino superior é visto prioritariamente como uma porta de entrada para o mercado de trabalho. Empregabilidade é um diferencial alardeado por muitas melhores instituições em todo o mundo. Mas será que as microcertificações estão atingindo esse objetivo?
Os dados mostram que estão, sim. Por exemplo, Varadarajan et al. (2023) demonstram que as microcredenciais funcionam como uma qualificação alternativa ao sistema formal de ensino que aumenta a empregabilidade. Esse resultado, na verdade, é o esperado em um mercado em que empregabilidade pode ser definida como:
“Posse de competências portáteis e qualificações que aumentam a capacidade de um indivíduo de utilizar as oportunidades de educação e formação disponíveis para garantir e manter um trabalho digno, progredir dentro da empresa e entre empregos, e lidar com a mudança tecnológica e as condições do mercado de trabalho.”
— Organização Internacional do Trabalho (ILO, 2019).
A portabilidade é um ponto muito interessante a ser destacado e significa que as credenciais obtidas pelos estudantes e profissionais podem ser compartilhadas entre diversos atores educacionais e corporativos. Por exemplo, levar credenciais de uma plataforma para outra e continuar a trajetória agregando novas credenciais desta segunda plataforma.
Para professores e universidades, microcredenciais oferecem a possibilidade de acelerar processos de inovação no currículo. Inclui-se aí a possível colaboração com outras instituições e com empresas interessadas em recrutar na instituição. Isso porque a adoção de microcertificações no currículo facilita o alinhamento deste último a necessidades da indústria em constante evolução.
Leia mais: Microcertificações como indutores da inovação no Ensino Superior
Outro ponto que deve ser considerado é a viabilidade operacional deste processo. A verdade é que qualquer mudança nos currículos, se envolverem mudanças de grade ou de inclusão e exclusão de disciplinas, é complexa e morosa. As microcertificações facilitam esse movimento e permitem que as instituições se mantenham focadas nas competências principais das carreiras que oferecem.
Empregadores podem se beneficiar das microcertificações de duas formas. A primeira, mais imediata, é contratar estudantes mais bem qualificados e com competências alinhadas às reais necessidades da empresa. A segunda é utilizar as microcertificações como estratégia de qualificação contínua da própria base de colaboradores, integrando-as às próprias iniciativas de treinamento. Em ambos os casos, haverá ganhos de produtividade e moral da equipe.
Como começar
Então, se interessou em implantar microcertificações em sua instituição? Vejamos por onde você pode começar.
Um dos principais benefícios de se trabalhar com microcertificações é que elas não competem com a grade regular, o que dá maior flexibilidade ao estudante para decidir seu ritmo de estudo. Mas, antes disso, será necessário definir quais competências devem ser priorizadas no currículo. Para isso, a orientação é se guiar pelo mercado de trabalho e pelas empresas que recrutam os estudantes. Soft skills são uma necessidade generalizada, mas uma pesquisa específica com empresas parceiras pode apontar outras necessidades, algumas talvez até mesmo técnicas.
Outro passo fundamental para o sucesso desta iniciativa é incluir os docentes no processo desde o início. É de se esperar que professores levantem dúvidas e restrições ao uso de microcertificações e ao tempo que os estudantes desviarão do estudo das disciplinas do curso para se dedicar às novas tarefas. Conduza ciclos de capacitação sobre os objetivos e o funcionamento das microcertificações e sobre como elas podem ser utilizadas nas disciplinas existentes. Não se surpreenda que professores mais entusiastas da ideia incluam esses novos recursos em suas aulas.
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Com as competências bem mapeadas e os professores (ao menos parcialmente) convencidos da importância e da viabilidade do projeto, o próximo passo é desenhar um piloto, que pode ocorrer em um curso individual, ou em alguns semestres letivos. Cada instituição precisa chegar à sistemática que mais faça sentido dentro da sua organização. As microcertificações podem ser introduzidas já prevendo a combinação em certificações maiores, que poderão ser até mesmo o embrião de novos cursos.
Todo piloto precisa de uma avaliação cuidadosa de resultados. Quais são os indicadores que fazem sentido para a sua instituição? Desenhe um plano de acompanhamento que permita o levantamento eficiente dos dados corretos que lhe permitirão identificar eventuais ações corretivas, pensando no crescimento do programa.
Ah, sim, falta uma coisa: a comunicação. Qualquer iniciativa, para ser bem sucedida, precisa ser bem comunicada. Pense em formas de comunicar o projeto e as oportunidades a todos os públicos, não só os estudantes. Destaque os benefícios e o alinhamento com o mercado, o interesse por parte dos empregadores, traga um ex-aluno para ser seu aliado na difusão desta nova proposta. Nesta era de excesso de comunicação e de estímulos, precisamos ser criativos.
E então? Se interessou em oferecer mais esta oportunidade de crescimento aos seus estudantes? Então, conheça as soluções Pearson para microcertificações.
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Referencias
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