Descubra como a IA generativa pode impulsionar o aprendizado ao longo da vida e tornar o lifelong learning uma prática personalizada, dinâmica e relevante.

  1. Saúde e relevância
  2. O potencial transformador da IA generativa na educação contínua
  3. Tutores virtuais e a personalização do processo de aprendizagem
  4. Democratização do acesso ao conhecimento especializado e geração de conteúdo educacional
  5. Feedback instantâneo e análise de aprendizado
  6. Conclusão

Já vi muitas definições de lifelong learning, algumas bastante técnicas e sofisticadas. Entre todas, aquela da qual mais gostei foi esta da UNESCO (UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2025):

Lifelong learning é a integração da aprendizagem à vida”

Claro, podemos ser mais precisos e mais técnicos, mas, para mim, essa definição traz de volta para o processo de aprendizagem a curiosidade da criança. Que é o que normalmente falta em nós adultos.

Saúde e relevância

Como fomentar o lifelong learning com o potencial da IA generativa_800x340

A verdade é que precisamos aprender continuamente durante toda a vida por vários motivos. Um dos principais, para mim, ao menos, é a saúde. Minha mãe morreu com Alzheimer, incapacitada de sair da cama, se alimentando por sonda estomacal, precisando de ajuda para tudo e sem reconhecer ninguém. Ninguém, mesmo. Para ela, a pior fase foi o declínio que precedeu o esquecimento, quando ela se deu conta do destino inevitável que ela teria. Para a família, a pior fase veio depois, quando ela não era mais ela.

A ciência vem procurando uma esperança para a demência senil (que inclui o Alzheimer), condição que acomete 1 em cada 3 idosos com mais de 90 anos. Porém, por enquanto, o melhor que podemos fazer é ter uma alimentação saudável, fazer exercícios, ter uma boa higiene de sono e... continuar aprendendo.

Mas manter o cérebro saudável não é a única razão pela qual a aprendizagem ao longo da vida vem sendo tão falada nos últimos anos. Com o avanço da sociedade tecnológica e a transformação acelerada do mercado de trabalho, manter-se relevante profissionalmente está cada vez mais desafiador, e o único caminho que temos (vejam, não é apenas o melhor, é o único) é continuar aprendendo.

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No livro Future Shock (Toffler, 1984), o famoso autor estadunidense Alvin Toffler transcreve um trecho de uma entrevista realizada com o psicólogo Herbert Gerjuoy, especializado em desenvolvimento organizacional, em que ele afirma que:

“A nova educação deve ensinar o indivíduo a classificar e reclassificar informações, avaliar sua veracidade, mudar categorias quando necessário, passar do concreto para o abstrato e vice-versa, olhar para os problemas a partir de uma nova direção — e a como aprender por conta própria. O analfabeto de amanhã não será a pessoa que não sabe ler; será a pessoa que não aprendeu a aprender.”

Essa frase ficou muito conhecida e foi atribuída ao próprio Toffler em inúmeras ocasiões. De fato é uma boa frase e, considerando que a primeira edição de Future Shock foi em 1970, Gerjuoy foi realmente visionário.

50 anos depois, esse pensamento é extremamente atual e devemos lançar mão de todos os recursos que estiverem ao nosso alcance para ajudar no processo de aprendizagem. Entra a IA generativa.

O potencial transformador da IA generativa na educação contínua

A razão pela qual a IA generativa representa um salto tão significativo no potencial de aplicação na aprendizagem é que, diferentemente de modelos anteriores, esses sistemas não se limitam a replicar informações, eles criam, inovam e geram conteúdo original (Porto, 2023).

Tutores virtuais e a personalização do processo de aprendizagem

Em termos de personalização, a capacidade da IA generativa de analisar o progresso dos estudantes e adaptar conteúdos, métodos e ritmos de estudo a necessidades individuais  (ver, por exemplo, Filho et al., 2024 e Jauhiainen & Garagorry Guerra, 2024) é notável. No Brasil, podemos citar iniciativas como Pontue e Plurall AI (UAI Mundo Corporativo, 2025), que automatizam correções, criam atividades e contribuem até mesmo para o combate do bullying nas escolas.

Há também os tutores virtuais baseados em IA generativa. Estão disponíveis a qualquer momento, em linha com a liberdade que os estudantes têm de estudar quando querem, e oferecem suporte e feedback aos estudantes em tempo real (Bertini & Passos, 2016). Esse nível de serviço é impensável sem a utilização de recursos tecnológicos.

Pesquisadores concluíram que a interação com tutores virtuais chegou até a contribuir com o desenvolvimento de habilidades metacognitivas, o que nunca foi o objetivo principal dessa tecnologia. No entanto, percebeu-se que, com feedback mais constante, os estudantes conseguem pensar sobre os resultados das suas próprias estratégias de aprendizagem, de uma forma muito similar ao que ocorre com videogames (Batsaikhan & Correia, 2024).

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Democratização do acesso ao conhecimento especializado e geração de conteúdo educacional

Um efeito da IA generativa sobre a educação que, ao menos para mim, foi uma boa surpresa, foi a democratização do acesso a conteúdos especializados de boa qualidade. Com as novas tecnologias, fica ainda mais fácil criar trilhas e experiências de aprendizagem especializadas para públicos que, de outra forma, não teriam acesso a essas oportunidades. O Brasil, como dizia Darcy Ribeiro, são vários Brasis e, considerando essas múltiplas realidades, a capacidade de adaptar conteúdos para necessidades específicas realmente representa um passo importante para uma educação mais inclusiva e democrática.

Além disso, não devemos esquecer também do potencial de atendimento às necessidades de profissionais em diversos estágios da carreira. Em outras palavras, a IA generativa pode apoiar e facilitar o esforço pela requalificação profissional da força de trabalho, o upskilling, sendo um importante facilitador da aprendizagem ao longo da vida, ou lifelong learning. Kasztelnik (2024) destaca o potencial da IA para a criação de experiências de aprendizagem dinâmicas e personalizadas, igualmente importantes, adequadas à rotina e ao dia a dia do aprendente.

Inclusive, a automatização de algumas etapas na criação de novos conteúdos permite que currículos e programas de treinamento sejam atualizados com mais frequência. Especialmente no contexto do lifelong learning, essa atualização constante representa um desafio. Para Pesovski et al. (2024), essa atualização, aliada à capacidade de customização dos roteiros de aprendizagem, é o que permite a criação de valor para estudantes e organizações.

Para os professores, o uso da IA generativa potencialmente vai além do apoio à geração de conteúdos. Uma das atividades que mais toma tempo dos docentes (conheço muitos que gostariam mesmo de fugir, se tivessem a chance) é a correção, seja de provas ou avaliações. Esse é somente um caso de atividade que pode ser acelerada com o uso da IA generativa. Não estou sugerindo que o docente não corrija mais a prova, mas que use a IA para sinalizar problemas mais rapidamente. Uma colega minha de docência, por exemplo, criou agentes de IA que, a partir de rubricas detalhadas de cada questão de prova, traz comentários contextualizados que ela, então, avalia e complementa. Segundo ela, esse procedimento poupa tempo e padroniza a correção. Para ela, seria difícil manter exatamente o mesmo critério do início ao fim quando precisa corrigir 150 a 200 trabalhos manualmente.

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Feedback instantâneo e análise de aprendizado

O feedback é um importante elemento da aprendizagem e um feedback rápido é ainda mais útil. É isso o que ocorre, por exemplo, em jogos digitais nos quais os jogadores recebem um feedback imediato, que permite avaliar suas estratégias e mudá-las conforme necessidade.

Embora a IA generativa não seja uma tecnologia necessária para o feedback em todos os casos, o seu uso facilita e amplia as possibilidades ao tornar possível, por exemplo, um feedback contextualizado sobre questões reflexivas. Com isso, estudantes podem ser alertados de imediato sobre erros conceituais ou eventuais ausências de conceitos importantes. Esse feedback em tempo real, como aponta Hora (2023), reforça a autorregulação e o engajamento ativo na aprendizagem.

Para os professores e gestores acadêmicos, as novas tecnologias oferecem uma riqueza de dados inimaginável até poucos anos atrás e permitem avaliar a eficácia de diferentes estratégias de aprendizagem a partir de resultados observáveis de aprendizagem dos estudantes. Isso é o que sempre quisemos, mas era muito difícil, ou até impossível, de ter. Lee & Moore (2024) dão asas ao otimismo e afirmam que rumamos para sistemas educacionais mais eficazes.

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Conclusão

A pesquisa para este artigo ampliou minha perspectiva sobre as possibilidades e os benefícios do uso da IA generativa na aprendizagem. Trata-se realmente de uma revolução na educação.

Como procurei esclarecer ao longo do texto, há vários aspectos do uso da IA generativa educacional que justificam sua adoção por indivíduos, instituições de aprendizagem e empresas. Tutores virtuais, customização da aprendizagem e feedback instantâneo são alguns dos recursos que podem beneficiar e facilitar a aprendizagem do estudante (mesmo que o estudante já seja um profissional com vários anos de experiência).

Para professores, o apoio e a aceleração em várias tarefas docentes, com melhoria na qualidade e diminuição das horas de dedicação, também representam um apelo importante. Para as instituições, por sua vez, os dados gerados sobre os roteiros e os resultados de cada estudante são um verdadeiro ouro gerencial que possibilita até mesmo direcionar investimentos com mais segurança.

E, para todos nós, não custa ter em mente a frase de Gerjuov: “O analfabeto de amanhã não será a pessoa que não sabe ler; será a pessoa que não aprendeu a aprender.” Acho que isso nunca fez tanto sentido.

 

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Referencias

Batsaikhan, B. (Zack), & Correia, A.-P. (2024). The effects of Generative Artificial Intelligence on Intelligent Tutoring Systems in higher education: A systematic review. Studies in Technology Enhanced Learning, 4(1). https://doi.org/10.21428/8c225f6e.33570bb1

Bertini, L. de F., & Passos, C. L. B. (2016). The role of virtual tutors in distance education for primary teachers: Focusing on mathematics. Educação e Pesquisa, 42, 83–98. https://doi.org/10.1590/S1517-9702201603138843

Filho, M. de A., Felippe, K. R. C., Souza, D. C. de, Júnior, H. G. M., Carmo, J. P. G. do, & Santos, R. F. do. (2024). O uso de IA em ambientes de aprendizagem personalizados The use of AI in custom learning environments El uso de la IA en entornos de aprendizaje personalizados. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO. https://www.academia.edu/118785588/O_uso_de_IA_em_ambientes_de_aprendizagem_personalizados_The_use_of_AI_in_custom_learning_environments_El_uso_de_la_IA_en_entornos_de_aprendizaje_personalizados

Hora, N. da. (2023, setembro 15). Inteligência Artificial e Educação no Brasil: Potencialidades e limitações - MIT Technology Review. MIT Technology Review - Brasil. https://mittechreview.com.br/inteligencia-artificial-e-educacao-no-brasil-potencialidades-e-limitacoes/

Jauhiainen, J. S., & Garagorry Guerra, A. (2024). Generative AI and education: Dynamic personalization of pupils’ school learning material with ChatGPT. Frontiers in Education, 9. https://doi.org/10.3389/feduc.2024.1288723

Kasztelnik, K. (2024). Artificial Intelligence-Assisted Curriculum Development: Innovations in Designing Educational Content for the 21st Century Learner. Journal of Higher Education Theory and Practice, 24(11), 51–59.

Lee, S. S., & Moore, R. L. (2024). Harnessing Generative AI (GenAI) for Automated Feedback in Higher Education: A Systematic Review. Online Learning, 28(3). https://doi.org/10.24059/olj.v28i3.4593

Pesovski, I., Santos, R., Henriques, R., & Trajkovik, V. (2024). Generative AI for Customizable Learning Experiences. Sustainability, 16(7), Artigo 7. https://doi.org/10.3390/su16073034

Porto, S. (2023, outubro 2). La Inteligencia Artificial Generativa en el aprendizaje en línea: Ventajas, desafíos y recomendaciones. Abierto al público. https://blogs.iadb.org/conocimiento-abierto/es/iag-aprendizaje-en-linea/

Toffler, A. (1984). Future Shock. Bantam, Reissue Edition.

UAI Mundo Corporativo. (2025, fevereiro 6). IA Generativa Transforma a Educação no Brasil. Portal Uai Mundo Corporativo. https://www.uai.com.br/app/noticia/mundo-corporativo/2025/02/06/noticia-mundo-corporativo,354659/ia-generativa-transforma-a-educacao-no-brasil.shtml

UNESCO Institute for Lifelong Learning. (2025). Lifelong learning | Institute for Lifelong Learning. https://www.uil.unesco.org/en/unesco-institute/mandate/lifelong-learning

 

Alexandre Gracioso
Alexandre Gracioso

Profissional com mais de 20 anos de experiência no ensino superior. Especializou-se em aprendizagem, desenvolvimento de competências socioemocionais e formação de líderes. De natureza inquieta, procura estar sempre atualizado das principais tendências referentes ao desenvolvimento humano e competências para o mercado de trabalho. Em suas atividades docentes, procura equilibrar a abordagem pessoal com as possibilidades tecnológicas. Recentemente, tornou-se sócio da Ideasense, empresa focada no desenvolvimento de Life Skills em organizações.

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