Microlearning e nanolearning são tendências emergentes no Ensino Superior, oferecendo pequenas doses de conhecimento em curtas durações.
- O que são Microlearning e Nanolearning?
- Por que o micro e o nanolearning vêm ganhando destaque?
- Tendências referentes a micro e nanolearning
- Implicações para o ensino superior e para o trabalho
- Conclusão
Quando paramos para pensar sobre as forças que estão dando forma a novos modelos de aprendizagem, especialmente no Ensino Superior, aprendizagem em pílulas no formato de microlearning ou nanolearning aparecem como importantes tendências para os próximos anos.
Similar em proposta, mas com importantes diferenças em formato, tanto a microlearning quanto a nanolearning são muito adequadas a necessidades emergentes especialmente de estudantes adultos.
Neste artigo, iremos aprender um pouco mais sobre o uso de pílulas de aprendizagem, veremos algumas tendências no uso dessas estratégias e implicações para Instituições de Ensino Superior (IESs). Para começar, no entanto, é importante que tenhamos a mesma compreensão sobre o significado de cada um desses termos.
O que são Microlearning e Nanolearning?
Uma definição amplamente aceita de microlearning é que este seria caracterizado por “uma abordagem de aprendizagem online que transmite pequenas doses de conhecimento em uma curta duração” (CrossKnowledge, 2025). Por ser muito curto, micro, a cápsula, ou pílula, seria focada em uma única temática, conceito ou habilidade. Nanolearning é um caso ainda mais acentuado de microlearning, ou seja, é uma estratégia que utiliza pílulas ainda mais curtas de aprendizagem (Pontotel, 2023).
No entanto, apesar de serem similares em proposta, o fato de o tempo médio de pílulas de micro e de nanolearning ser bastante diferente faz com que essas estratégias tenham focos diferentes (ver Tabela 1).
Tabela 1: Características típicas de pílulas de micro e de nanolearning (*)
Característica | Microlearning | Nanolearning |
---|---|---|
Duração típica | 5–20 minutos | 2–5 minutos |
Escopo | Um conceito ou habilidade | Um único fato ou dica |
Aplicação ideal | Desenvolvimento de habilidades | Atualizações rápidas, reforço |
Profundidade do conteúdo | Moderada | Condensada |
Formatos | Vídeos, infográficos, quizzes | Vídeos curtos, flashcards, notificações |
Flexibilidade | Alta | Muito alta |
Integração na rotina diária, especialmente do estudante adulto, que já trabalha | Boa | Excelente |
(*) Compilado pelo autor
Como veremos a seguir, as características, tanto do microlearning quanto do nanolearning tornam ambas as estratégias muito adequadas a algumas necessidades dos estudantes atuais, especialmente os estudantes adultos, que já trabalham.
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Por que o micro e o nanolearning vêm ganhando destaque?
Em primeiro lugar, sabemos que, infelizmente, a tecnologia digital, especialmente os dispositivos móveis, vem provocando uma diminuição nos tempos de atenção, especialmente entre as gerações mais jovens. É consenso que "reels" e vídeos curtos nas redes sociais contribuem para uma redução na capacidade de concentração (Shail, 2019). Dentro desse panorama, o nanolearning, com sessões de menos de 3-5 minutos, e o microlearning, com 5-20 minutos, se adaptam perfeitamente a uma nova realidade cognitiva.
Essa adaptação alinha-se com os princípios da Teoria da Carga Cognitiva (TCC), desenvolvida por John Sweller, que enfatiza a importância de respeitar as limitações da memória de trabalho humana (Clark et al., 2005). O nanolearning e o microlearning, ao oferecerem conteúdo em segmentos curtos e focados, reduzem a carga cognitiva extrínseca, permitindo que os aprendizes processem informações mais eficientemente sem sobrecarregar sua capacidade cognitiva. Essa abordagem não apenas atende às demandas de atenção reduzida da era digital, mas também otimiza o processo de aprendizagem ao minimizar a sobrecarga cognitiva, facilitando a assimilação e retenção de informações cruciais.
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Além disso, mudanças no mercado de trabalho também impulsionam a adoção dessas abordagens. A economia da aprendizagem exige uma abordagem mais flexível e rápida para a aquisição de habilidades, enquanto as rápidas mudanças tecnológicas demandam upskilling e reskilling contínuos (Jomah et al., 2016). O microlearning e o nanolearning permitem que os profissionais se atualizem rapidamente em habilidades específicas, essenciais para se manterem relevantes em um mercado de trabalho dinâmico e competitivo. De fato, percebemos que essas abordagens estão alinhadas à ênfase na aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning), ao permitir que as pessoas aprendam sem interromper suas rotinas de trabalho.
Finalmente, a demanda por experiências de aprendizagem personalizadas também está aumentando, com o microlearning, especialmente quando potencializado por IA, permitindo uma personalização mais precisa do conteúdo.
Tendências referentes a micro e nanolearning
Entre as tendências impulsionando o desenvolvimento e a utilização cada vez mais ampla destas estratégias (e tecnologias) de aprendizagem, podemos citar, inicialmente (e, sem surpresa) a Inteligência Artificial (IA), que facilita a personalização de conteúdos e a adaptação de trilhas de aprendizado a necessidades individuais dos estudantes (Moderna, 2025). Esta personalização se dá por meio da integração de pílulas de aprendizagem em ambientes customizados, onde conteúdos condensados são ajustados para cada estudante (Desiderio et al., 2024).
O uso de conteúdos condensados e ultracondensados é fundamental no nanolearning. A ideia central é a eliminação de detalhes supérfluos, para facilitar uma absorção rápida e eficiente do conhecimento, otimizando o tempo de aprendizagem (Desiderio et al., 2024). Esta estratégia é reforçada pelo uso de tecnologias de realidade aumentada e virtual, com a criação de experiências de aprendizagem envolventes e interativas (Moderna, 2025).
O uso de pílulas de aprendizagem ultracondensadas é particularmente adaptado ao uso dos dispositivos móveis e à aprendizagem no trabalho. Profissionais podem dar prosseguimento a seus cursos durante breves intervalos em suas rotinas, como em deslocamentos ou entre compromissos (Pearson Higher Education, 2024). Esta flexibilidade vai ao encontro da ideia de aprendizado sob demanda, adaptando-se a agendas ocupadas.
Finalmente, a gamificação de percursos de aprendizagem entregues por meio de pílulas (Matias, 2025) emerge como uma estratégia eficaz para aumentar o engajamento e a motivação dos alunos. O efeito da gamificação pode ser reforçado por meio do aprendizado social como, por exemplo, a incorporação de sistemas de recompensas que incentive o compartilhamento de conhecimentos entre os usuários.
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Implicações para o ensino superior e para o trabalho
Micropílulas de aprendizagem e as tecnologias que as habilitam estão promovendo grandes mudanças tanto no mundo da aprendizagem quanto no mundo do trabalho (entre outras coisas, estão mostrando que essa divisão não existe). No ensino superior, instituições redesenham currículos, professores adaptam estratégias instrucionais e estudantes ganham autonomia (Chamorro-Atalaya et al., 2024). A Teoria da Carga Cognitiva de Sweller embasa essa transformação, mostrando como segmentar informações otimiza a aprendizagem ao respeitar as limitações da memória de trabalho (Sweller, 2020).
No caso de profissionais e na esfera da educação executiva, micro e nanolearning viabilizam a atualização contínua de competências - aprendizado ao longo da vida, upskilling e reskilling, essencial para se manter competitivo (Jomah et al., 2016). A aprendizagem se integra ao fluxo de trabalho (Learning in the flow of work - LIFOW), tornando o conhecimento acessível no momento da necessidade (Torgerson, 2016).
Tanto no caso dos estudantes quanto no dos profissionais, estratégias de aprendizagem condensada facilitam a implantação, dentro do currículum sobrecarregado de instituições de ensino ou do dia a dia atribulado de profissionais, de microcertificações. Estas abordagens de aprendizagem permitem que as instituições de ensino superior ofereçam programas mais flexíveis e personalizados, atendendo às demandas específicas do mercado de trabalho e às necessidades individuais dos alunos. Programas de microcertificações apoiadas por micro e nanolearning possibilitam que estudantes complementem seus programas e adquiram competências específicas de forma rápida e eficiente.
No ambiente corporativo, as microcertificações oferecem uma solução eficaz para o desenvolvimento contínuo de habilidades. Elas permitem que os profissionais se mantenham atualizados em suas áreas de atuação sem interromper significativamente suas rotinas de trabalho. O Conselho da União Europeia, por exemplo, adotou uma recomendação sobre uma abordagem europeia para microcredenciais, reconhecendo seu potencial para oferecer oportunidades de educação e treinamento mais flexíveis e centradas nas necessidades individuais e organizacionais (European Commission, 2024).
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Conclusão
De certa forma, o crescimento do microlearning e do nanolearning reflete transformações na sociedade . Além de responder às limitações cognitivas impostas pela sobrecarga de informação e pela redução do tempo de atenção, estas estratégias são muito adequadas às novas demandas do mercado de trabalho e da educação superior.
A Teoria da Carga Cognitiva (TCC), proposta por John Sweller, fornece um forte respaldo para essas estratégias, pois enfatiza a importância de respeitar os limites da memória de trabalho no processo de aprendizagem. Ao segmentar o conhecimento em pílulas curtas e focadas, microlearning e nanolearning reduzem a carga cognitiva extrínseca e facilitam a transferência de conhecimento para a memória de longo prazo. Além disso, tecnologias como Inteligência Artificial e gamificação podem, potencialmente, ter um bom efeito sobre a aprendizagem ao integrar as atividades ao dia a dia corrido de todos nós.
No ensino superior, a adoção dessas estratégias permite um redesenho curricular, tornando os programas mais flexíveis e ajustados às necessidades dos alunos. No mundo corporativo, o upskilling e o reskilling são viabilizados por meio de microcertificações, garantindo que profissionais permaneçam atualizados sem comprometer suas rotinas.
Assim, microlearning e nanolearning não são apenas tendências passageiras, mas sim componentes essenciais de um novo paradigma educacional, no qual a aprendizagem contínua se torna parte natural do cotidiano. Fundamentadas na TCC, essas estratégias promovem um aprendizado mais eficiente e adaptado às demandas do século XXI, garantindo que estudantes e profissionais adquiram e retenham conhecimento de maneira mais produtiva e sustentável.
Referencias
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Matias, E. (2025, janeiro 30). 7 Tendências Inovadoras para Cursos Online em 2025 que Você Precisa Conhecer. https://omaringa.com.br/coluna/diversidades/7-tendencias-inovadoras-para-cursos-online-em-2025-que-voce-precisa-conhecer/
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