As metodologias ativas contribuem para a avaliação do estudante, pois vinculam-se aos aspectos como criatividade, colaboração e cooperação.

  1. Por que as rubricas?
    1.1 Tipos de rubricas
  2. Aplicação da metodologia processo incidente na criação de rubricas
    2.1 1º passo – reflexão
    2.2 2° passo – levantamento de critérios e níveis
    2.3 3° passo – comparação das rubricas
    2.4 4º passo – definição da rubrica da turma
  3. Considerações finais

"Toda criança é artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer”.

– Pablo Picasso.

Durante minha jornada docente preocupei em estar atenta sobre como planejar atividades interativas, a fim de que meus estudantes se percebessem como protagonistas da sua aprendizagem.

Eu acreditava, e ainda acredito, que aprender envolve o binômio reflexão-ação e que um bom plano de aula deve considerar processos mais participativos e criativos.

Não tenho dúvidas de que o planejamento é beneficiado pelo uso das metodologias ativas. Afinal, elas “dão ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em toda as etapas do processo, experimentando, desenhando, criando, com orientação do professor” (MORAN, 2018, p.4).

Contudo, minha curiosidade residia em saber como os estudantes se percebem autônomos?

Minha hipótese era a de que as relações sociais - virtualmente ou não, poderiam ser beneficiadas pela autopercepção da autonomia do estudante levando em consideração as seguintes ações:

  • Acolhimento – estar atento aos seus pensamentos, sentimentos e ações.
  • Apoio –sobre seu desenvolvimento motivacional.
  • Estímulo – sobre sua capacidade para autorregular-se.
  • Confiança – sobre seus desafios e capacidades.
  • Responsabilidade – sobre a relação de interdependência com o mundo.
  • Inclusão – sobre suas experiências prévias.

Para Reeve (2009 apud Berbel, 2011, p. 25) a percepção de autonomia pelos estudantes impacta positivamente no seu desempenho e pode ser observada pelos seguintes aspectos:

  1. Motivação – apresenta motivação intrínseca, percepção de competências, pertencimento, curiosidades, internalização de valores.
  2. Engajamento – demonstra emoções positivas.
  3. Desenvolvimento – evidenciando autoestima, autovalor, preferência por desafios, criatividade.
  4. Aprendizagem – melhor entendimento conceitual, processamento profundo de informações e uso de estratégias autorreguladas.
  5. Melhoria no desempenho em notas, nas atividades, nos resultados em testes padronizados.
  6. Estado psicológico – apresentando indicadores de bem-estar, satisfação com a vida, vitalidade.

Vou compartilhar com você uma ideia sobre como contribuímos para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes envolvendo-os no processo de criação dos critérios de avaliação. Como modelo usarei o sistema de avaliação por rubricas. Acompanhe! 

Leia também: 👉 Autorregulação na aprendizagem é habilidade-chave em 2022

Por que as rubricas?

metodologias ativas no ensino superior

Os estilos de aprendizagem dos estudantes dizem muito sobre a forma como eles aprendem e servem de orientação para o planejamento da avaliação.

Autores como Angelo e Cross (1993) citado por Palloff e Pratt (2004), orientam que as atividades avaliativas devam ser planejadas com o objetivo de que os estudantes reflitam sobre como reagem aos dilemas da vida, bem como resolvem problemas, analisam seus argumentos, se expressam, resumem informações e aplicam o que aprendem.

Para mim, rubrica é algo que simboliza praticidade e clareza. Sempre gostei de criar planilhas com critérios e indicadores para avaliar projetos, seminários e até provas. Isso me dava agilidade e transparência junto aos meus estudantes.

O sistema de rubricas de aprendizagem funciona como uma matriz de consulta e é muito eficaz como recurso de automação e produtividade. Segundo Biagiotti (2005):

As rubricas podem ser usadas para prover feedback formativo dos estudantes, para dar notas ou avaliar programas.

Biagiotti orienta que não usemos mais do que seis níveis de descrição das rubricas e que elas não podem ser concebidas como uma receita pronta.

Elas são muito interessantes para avaliar situações em sala de aula virtuais e presenciais. Palloff e Pratt (2004, p. 112) salientam que: “os critérios dão um direcionamento claro ao estudante e reduzem ou eliminam quaisquer desacordos sobre as notas ao final do curso”.

Por exemplo, o professor ou tutor podem compartilhar com os estudantes a matriz de rubricas que será usada e conversar com os estudantes sobre o porquê de cada critério e depois rever juntamente com o sistema de autoavaliação.

Tipos de rubricas

Basicamente há dois tipos de rubricas. As analíticas e as holísticas. Você poderá optar por cada uma delas de acordo com a forma que deseja avaliar. Ambas podem ser editadas nos ambientes virtuais de aprendizagem mais modernos.

  • Rubricas analíticas
    icone-habilidades-digitaisSão bidimensionais com os níveis de desempenho em colunas e os critérios de avaliação em linhas. É possível atribuir pesos (valores) diferentes a critérios distintos e incluir um desempenho geral totalizando os critérios. Elas podem usar um método de pontuação com pontos, pontos personalizados ou somente texto.
  • Rubricas holísticas
    icone-escreverPossuem critério único (unidimensional) e são usadas para avaliar o desempenho geral dos participantes em uma atividade ou um item com base em níveis de desempenho predefinidos. Elas podem usar um método de pontuação com porcentagens ou somente texto.

Há diversos modelos de rubricas prontos na internet, mas a proposta aqui é você e seus estudantes construam juntos seus próprios tipos de rubricas. Além disso, alguns ambientes virtuais de aprendizagem já possuem editores de rubricas. Vamos ver na prática como funciona.

Aplicação da metodologia processo incidente na criação de rubricas

O Processo incidente é uma variação do estudo. Ele é composto de 4 fases:

Metodologias ativas para educacao superior

O planejamento desse tipo de estratégia pode ser pensado para a atuação em sala de aula ou em ambientes virtuais de aprendizagem. Como implementação dessa proposta usarei diferentes recursos materiais e digitais. As ações poderão ser aplicadas em sala de aula presencial ou remota.

Descritivo da dinâmica

  • A atividade foi pensada para 70 minutos.
  • Escolha os materiais para registros e locais de compartilhamento.
  • Faça um pequeno intervalo de 5 minutos após o 3º passo.
  • O tempo aplicado nessa experiência é estimado.
  • Você poderá fazer adaptações conforme sua realidade.

1º passo – Grupo grande – reflexão sobre como se percebem avaliando

Peça para que um ou dois estudantes traga um caso simples da vida em que precisaram tomar decisão sobre um problema complexo e faça intervenções sem empregar juízo de valor.

Tempo: 5 minutos.

Com a turma toda, faça perguntas poderosas para estimular o pensamento divergente sobre como tomam decisões em suas vidas e peça para que façam pequenas anotações (palavras-chave). Use a técnica Brainstorming.

Tempo: 2 minutos.

Em seguida, exponha sobre a ajuda que você precisa para criar critérios e indicadores para um sistema de avaliação de desempenho. Esse exemplo será sobre a produção de um texto de introdução de projeto. O importante é que eles se sintam encorajados a participar.

Tempo: 5 minutos.

2º passo – Grupo pequeno – levantamento de critérios e níveis

Na sala de aula, sorteie os estudantes para que montem pequenos grupos. Para agrupá-los você poderá usar etiquetas coloridas, cartas de baralho, números etc. Se estiver numa sessão remota, poderá usar algum site de sorteio na internet.

Tempo: 3 minutos.

Em seus pequenos grupos os estudantes socializam suas palavras-chave, fazendo o exercício do pensamento convergente. Nessa hora eles devem dialogar e fazer anotações sobre os principais critérios de avaliação para introdução de um texto de projeto.

Tempo: 5 minutos.

Eles deverão levantar pelo menos critérios e seus respectivos níveis que evidenciem a aprendizagem nessa atividade. Oriente para que não seja mais do que 4 níveis.

Tanto em sala de aula presencial como na aula remota, você poderá estimulá-los a pesquisar modelos de rubricas na internet, mas oriente que esse momento é de autoria deles. A criatividade deve ser estimulada!

Tempo planejado: 15 minutos.

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3º passo – Grupo pequeno – comparação das rubricas

É o momento de socializar entre os grupos o que cada um fez. Informe que elejam um representante de cada grupo para apresentar a rubrica aos outros e que o grupo receptor deve fazer anotações para comparar as rubricas.

Use a técnica do emissário. O representante roda entre os grupos levando a rubrica criada. Certifique-se de que todos os representantes passaram por todos os grupos.

Tempo: 15 minutos.

4º passo – Grupo grande – definição da rubrica da turma

Estimule a síntese do pensamento convergente entre seus estudantes para que decidam a rubrica geral. É o momento de socialização com todos.

Você poderá solicitar que eles montem a rubrica em um arquivo do Excel compartilhado ou em um programa interativo como Padlet. Fique à vontade para usar os softwares de sua preferência.

Tempo: 15 minutos.

Observação: caso o professor queira realizar essa atividade de forma assíncrona poderá usar os recursos do fórum e da criação de grupo dentro do seu LMS (sistema de gestão de aprendizagem).

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Considerações finais

As metodologias ativas contribuem sensivelmente para a avaliação, pois vinculam-se aos aspectos como criatividade, colaboração, cooperação e compartilhamento. O estudante, diante de sua autonomia, perceber a lógica proposta e estabelece confiança como produção de sentido. Afinal, construir conhecimento requer envolvimento!

E você, como percebe as metodologias ativas em sua prática pedagógica?

Vou revisar alguns pontos importantes com algumas perguntas para reflexão:

  • Planejamento – você planeja e segmenta as fases da aplicação considerando o tempo para cada uma?
  • Diagnóstico – vocês e seus estudantes fazem um brainstorm estimulando o pensamento divergente?
  • Dinâmicas – os estudantes participam das dinâmicas integrativas estimulando o pensamento convergente?
  • Responsabilidade compartilhada – os estudantes criam e decidem em conjunto com você, estimulando a colaboração, cooperação e o compartilhamento?
  • Avaliação – você e seus estudantes avaliam a eficácia e eficiência do sistema de avaliação, estimulando a corresponsabilidade e a visão sistêmica?
  • Tecnologia – você utiliza plataformas digitais?

Sobre as rubricas de avaliação, como pudemos perceber, elas são recursos eficientes não só para a economia do tempo, mas também para entender o progresso dos estudantes e ainda promovem:

  1. Equidade – avaliação justa e coerente.
  2. Classificação – níveis de desempenho.
  3. Transparência – alunos podem visualizá-las antes.
  4. Otimização – critérios pré-definidos.

Não se esqueça de que as experiências de aprendizado são afetivas, materiais e sociais. Um bom planejamento com metodologias ativas deve contemplar o empoderamento (percepção de pertencimento e interdependência), a autonomia (exercício da tomada de decisão) e a criatividade (conecta saberes e pessoas).

Até o próximo post!

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Referências

BACICH, Lilian ; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre : Penso, 2018.

BERBEL, Neusi A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Disponível em: <https://www.academia.edu/32248751/As_metodologias_ativas_e_a_promo%C3%A7%C3%A3o_da_autonomia_de_estudantes_Active_methodologies_and_the_nurturing_of_students_autonomy>. Acesso em: 17 fev. 2022.

Gerenciamento de rubricas. 11 de agosto, 2020. Disponível em: < https://community.brightspace.com/s/article/Gerenciamento-de-rubricas-1717318973>. Acesso em 17 mar. 2022.

PALLOFF, Rena M. O aluno virtual: um guia para trabalhar com estudantes on-line. Porto Alegre : Artmed, 2004.

 

Kassandra Carvalho
Kassandra Carvalho

Pedagoga; mestre em educação; especialista em novas tecnologias aplicadas à educação e em gestão da EaD. Trabalha com educação há 27 anos. Atuou como docente, coordenadora pedagógica e tutoria em cursos de graduação e pós-graduação a distância. Seu foco é a formação continuada de professores para uso das mídias e informática aplicada à educação. Atualmente é consultora e coordenadora pedagógica na Pearson HED LATAM.

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