Os Quatro Pilares da Educação, propostos por Jacques Delors, são essenciais para uma formação abrangente e significativa, aplicáveis também ao ensino superior.

Os Quatro Pilares da Educação são princípios fundamentais, propostos no Relatório para a UNESCO, da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, intitulado: Educação, um Tesouro a descobrir (1996), de autoria de Jacques Delors, que presidiu a Comissão de 1992 a 1996.

Embora os quatro pilares da educação do Relatório Delors tenham sido inicialmente propostos para a educação em geral, eles podem ser aplicados e adaptados ao contexto do ensino superior, para promover uma formação mais abrangente e significativa dos alunos. Estes pilares envolvem questões cognitivas e de relacionamento humano, com o poder de construir no aluno a sua identidade e desenvolvê-lo de forma holística junto à sociedade.

Bateu a curiosidade? Ainda não conhece os quatro pilares da educação? Vamos apresentá-los originalmente e depois aplicá-los ao contexto das bibliotecas das IES. Acompanhe!

Os quatro pilares da educação

Os Quatro Pilares da Educação

Os quaro pilares da educação são direcionados para conceber a educação como um todo, ou seja, não se limita a privilegiar somente o acesso ao conhecimento dos sistemas educativos formais, pois existem diversas formas de aprendizagem, que podem ocorrer ao longo da vida, inclusive as experiências vivenciadas.

1º pilar – Aprender a conhecer: Enfatiza a importância do desenvolvimento do pensamento crítico, da capacidade de adquirir conhecimento de forma autônoma e da promoção da curiosidade intelectual.

“O aumento dos saberes, que permite compreender melhor o ambiente sob os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia na capacidade de discernir (Delors, 1998, p. 91).

2º pilar – Aprender a fazer: Destaca a necessidade de desenvolver habilidades práticas, a capacidade de aplicar conhecimentos na prática e a promoção do aprendizado baseado em experiências.

“Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada, para fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como consequência, as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar.” (Delors, 1998, p. 93)

3º pilar – Aprender a conviver: Enfatiza a importância das habilidades sociais, do respeito à diversidade, da cooperação e da compreensão intercultural para uma convivência pacífica e construtiva.

“A educação formal deve, pois, reservar tempo e ocasiões suficientes em seus programas para iniciar os jovens em projetos de cooperação, logo desde a infância, no campo das atividades desportivas e culturais, evidentemente, mas também estimulando a sua participação em atividades sociais: renovação de bairros, ajuda aos mais desfavorecidos, ações humanitárias, serviços de solidariedade entre gerações...” (Delors, 1998, p. 99)

soft skills no plano academico

4º pilar – Aprender a ser: Reconhece a importância do desenvolvimento pessoal e do autoconhecimento, buscando a formação integral do indivíduo, incluindo aspectos emocionais, éticos e estéticos.

“Este desenvolvimento do ser humano, que se desenrola desde o nascimento até à morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Neste sentido, a educação é antes de mais nada uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade.” (Delors, 1998, p. 101)

Como vimos, os quatro pilares podem ser aplicados em qualquer instância da educação, mesmo quando se trata do Ensino Superior. Esses princípios são relevantes, pois espera-se que os alunos não apenas adquiram conhecimento em suas áreas de estudo, mas também desenvolvam habilidades críticas, analíticas e práticas relacionadas às suas disciplinas. Além disso, é crucial promover a formação integral desses indivíduos, incentivando o desenvolvimento de habilidades interpessoais, éticas e emocionais.

Os professores e as instituições de ensino superior podem incorporar esses pilares de diversas maneiras, incluindo métodos de ensino que promovam a pesquisa, a aplicação prática do conhecimento, o desenvolvimento pessoal e as interações sociais.

Projetos práticos, trabalhos em equipes, uso de plataformas de aprendizagem, metodologias ativas, estágios, intercâmbios culturais, visitas técnicas e demais atividades extracurriculares podem contribuir para a formação abrangente dos estudantes, durante sua trajetória estudantil até a sua graduação.

No contexto dessas interações é fundamental a ênfase na educação ética e na cidadania como forma de consolidar todos os pilares, proporcionando ao aluno egresso essa formação diferenciada.

A Biblioteca universitária e os quatro pilares da educação

Agora que vimos que Os Quatro Pilares da Educação de Jacques Delors podem/devem ser aplicados na educação superior, por que não os incorporar na biblioteca universitária?

Falar de educação é falar de biblioteca. A importância dessa instituição no contexto educacional e no desenvolvimento integral dos indivíduos é notória. Aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser, tudo isso pode acontecer na ambiência de uma biblioteca, inclusive nas virtuais, já que esta é uma extensão da sala de aula e da vida socioeducativa.

[Coluna Inside HED] Atuação de bibliotecários acadêmicos com o uso da inteligência artificial

Acompanhe os quatro pilares da educação, trazendo a vivência e a prática para a biblioteca, seja ela física ou virtual.

primeiro pilar na biblioteca aprender a conhecer1º pilar na biblioteca: Para o primeiro pilar, aprender a conhecer, sabemos que na biblioteca se encontram diversas fontes de conhecimento disponíveis para consulta e pesquisa, que possibilitam o aluno a adquirir competências para sua formação nos mais variados seguimentos.

É um ambiente ideal para promover a busca e aquisição de conhecimento. Ela oferece acesso a uma ampla gama de recursos informacionais, como livros, periódicos, artigos acadêmicos, e-books, bases de dados online e outras fontes de informação, permitindo que os usuários explorem diferentes áreas do conhecimento.

O serviço de referência e todo o seu aparato, seja no ambiente físico ou virtual, contemplando orientações gerais, atendimento personalizado, sinalização, catálogos, comunicação, interface, buscadores, ajuda, facilidades de navegação, contribui para a autonomia do indivíduo no processo de aprender a conhecer.

segundo-pilar-na-biblioteca-aprender-a-fazer2º pilar na biblioteca: O segundo pilar, aprender a fazer, caracteriza-se pela aplicação daquilo que se aprendeu, ou seja, usar a bagagem de aprendizado, vivências e conhecimento em tudo que está ao redor do indivíduo, envolvendo o meio e usando a sua formação para melhorá-lo. Em termos de pesquisa, a biblioteca é retroalimentada com novos trabalhos que, por sua vez, foram subsidiados a partir de outros trabalhos já existentes no seu acervo.

Nas bibliotecas, os usuários têm a oportunidade de desenvolver habilidades práticas relacionadas à pesquisa, à organização da informação e à utilização de recursos tecnológicos. Por meio de atividades como a busca por informações, a análise de fontes e a elaboração de trabalhos acadêmicos, os usuários podem aplicar o conhecimento adquirido em seus estudos e em suas vidas profissionais.

terceiro pilar na biblioteca aprender a conviver3º pilar na biblioteca: Já o terceiro pilar, aprender a conviver, sugere que vivamos de forma igualitária, colaborativa e harmônica, participando de projetos para o bem comum. Em uma biblioteca ocorrem vários momentos de convivência, de discussão em torno de algum assunto, como por exemplo os trabalhos em equipe que podem desencadear novas ideias a partir de um consenso, para aplicação em projetos do momento ou futuros.

Esses momentos em bibliotecas desempenham um papel importante no desenvolvimento pessoal dos usuários e em grupo, promovendo a autonomia, a autoconfiança, o autoconhecimento, a empatia e o respeito às opiniões divergentes. As bibliotecas oferecem espaços tranquilos e propícios para reflexão, além de programas e serviços que visam ao bem-estar emocional e ao desenvolvimento pessoal dos usuários.

quarto pilar na biblioteca aprender a ser4º pilar na biblioteca: No quarto e último pilar, aprender a ser, que podemos considerar um somatório dos três anteriores, vemos a construção do indivíduo com pensamento autônomo e crítico a partir de sua formação, sendo capaz de usar seus conhecimentos para melhorar o seu meio, mas conhecendo e preservando a sua individualidade. Uma pessoa que frequentou bibliotecas, que teve a oportunidade de usufruir de todas as suas benesses, quando retorna a ela consegue concluir que parte da sua identidade surgiu daquele lugar, lugar este capaz de influenciar e fazer crescer para o bem.

As bibliotecas são espaços de convivência, inclusive no ciberespaço, onde pessoas de diferentes origens, idades e interesses se encontram para estudar, pesquisar e compartilhar conhecimentos. Elas promovem a interação social, o respeito à diversidade e o diálogo entre os usuários, contribuindo para uma convivência harmoniosa e construtiva na comunidade acadêmica.

Concluímos que o processo dos quatro pilares da educação não é linear, ele é circular. Já pensou nesse círculo virtuoso?

círculo virtuoso quatro pilares da educação

  • Alguém busca com autonomia uma informação em uma biblioteca e junto ao acervo conhece o que precisa.
  • Faz a leitura, conclui, forma opinião e discute esse conteúdo com seus pares. Mais adiante, usa e aplica esse conhecimento adquirido e realiza algo.
  • Com as suas realizações, convive de forma harmoniosa com a comunidade em que habita, colaborando no que for preciso a partir do que aprendeu e aplicou.
  • Retorna à biblioteca e continua com o seu crescimento pessoal cognitivo. Com o passar do tempo, com suas experiências e convivências, vai se constituindo como ser humano consciente de si mesmo, capaz de ser reflexivo e crítico para transformar o mundo. E com toda essa bagagem de educação formal e não formal, tanto individual como do mundo coletivo, ele aprende a ser, tem consciência de quem é.

Nessa dinâmica, tudo se reinicia com nova necessidade de conhecer algo novo, criando um círculo virtuoso.

Nova call to action

Referências

DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: UNESCO; Cortez, 1998. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5938745/mod_resource/content/4/2012%20educ_tesouro_descobrir_Delors.pdf. Acesso em 09 mar. 2024.

Ana Luiza Chaves
Ana Luiza Chaves

Gestora de bibliotecas na Faculdade CDL; especialista em Pesquisa Científica, em Marketing Estratégico e em Gestão de Arquivos Empresariais. Exerce a função de Analista de Projetos de Arquivos, na Mrh Gestão de Arquivos, atuando como responsável técnica, e como auditora da qualidade. Focada no incentivo à leitura e ao uso de bibliotecas, na gestão de documentos, na aplicação da normalização em trabalhos acadêmicos e na gestão da qualidade. Mantém o blog de sua autoria Leitura e contexto.

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